AOS PAPILOSCOPISTAS!

Bom mesmo seria se os papiloscopistas colocassem nos seus relatórios oficiais a presença das cicatrizes que trago nas polpas dos meus dedos. Cada delta, presilhas internas e externas, além dos arcos são capazes de provar o quanto marcou a minha pele quando toquei insistentemente a fagulha da delicadeza de uma lembrança. As minhas mãos estão repletas de fotocópias expurgadas pela derme que sentira o amor. Mãos de seresteiro que dedilhou numa viola sentida quando a lua cheia arregaçou o remanso da serra. Mãos de cândido byroniano que folheou os sonetos de Matusalém Dias de Moura como menino que se estira o máximo possível para arrancar os frutos da macieira. Mãos de quem encontrou no órgão-maior da sua paixão, a leveza dos poros que se dilatam em arrepio de louvor. Bom mesmo seria se os papiloscopistas tivessem a sensibilidade dos escafandristas. Saberiam, pois, lidar com a força do fôlego e concatenar a resposta do tato que erige quando os pulmões esfregam-se, um no outro.

Italo Samuel Wyatt
Enviado por Italo Samuel Wyatt em 11/04/2022
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