Pote de bolacha
No escuro procurei pelo pote de bolachas em cima balcão. Ao aproximar-me, notei um pequeno vulto em movimento. Era uma barata. Ela devia querer o mesmo que eu. Matar a fome com migalhas. Naquele dia não tive o ímpeto de esmagá-la. Peguei o pote na mão e até pensei em alimentá-la. Mas desisti, achei a ideia nojenta. Enchi uma das mãos e voltei para o sofá, após fechar o pote. Mastiguei as migalhas secas como se fosse um néctar. Calei a boca da fome. Naquela semana iria mudar de casa. Talvez noutro dia aquela barata estaria aniquilada. Provavelmente não descansaria até saber que estava tudo supostamente limpo. Hoje, andando no escuro da casa, percebi que as baratas ficam perto dos restos. Intimidades. Foi neste instante que percebi porque eu e as baratas morávamos juntas. Daqui pra frente vou deixar as migalhas das bolachas em cima de todo lugar, pois amigos devem ser bem tratados, ainda mais quando eles estão no escuro sem dizer nada a espera de uma migalha qualquer.