TRÊS DIAS APÓS O FUNERAL

Três dias após o funeral, continua doendo, ainda latente, ainda dilacerante

Só as lágrimas já não saem tão teimosas como anteontem

Agora eu escolho o momento de me "esvaziar "

Falo assim quando me recolho pra chorar

Então as vezes no meio de uma tarefa, sinto necessidade de me esconder no quarto pra chorar, a sensação é de alívio, aquele é um momento meu a sós com a dor.

As lágrimas quando molham a roupa de cama, elas materializam a dor, então assim eu posso tocar a dor, posso sentir a dor, posso me agarrar a dor, e também observo a quantidade da dor

A dor assim materializada, é a constatação de que parte dela, já consegui arrancar lá de dentro

Então vamos convivendo com a dor

E cada vez que volto para minhas tarefas com os olhos inchados, mais vazia fico de dor

Agora neste exato instante que falo da dor, ela não é parte de mim, ela está em mim até que eu consiga extirpá-la por completo.

Não sei quantos rios de dor ainda tenho para chorar, mas sei que é um processo dolorosamente longo.

E aceito viver ele, com a esperança que cada dia faltam menos

E haverá um dia que só vou precisar ir para o quarto uma única vez

Neste dia, quando expelir a última gota de dor, eu haverei de botar elas no varal

E um novo sol fará com que se evaporem.

Thaís Mendes
Enviado por Thaís Mendes em 09/04/2022
Reeditado em 09/04/2022
Código do texto: T7491695
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