TRÊS DIAS APÓS O FUNERAL
Três dias após o funeral, continua doendo, ainda latente, ainda dilacerante
Só as lágrimas já não saem tão teimosas como anteontem
Agora eu escolho o momento de me "esvaziar "
Falo assim quando me recolho pra chorar
Então as vezes no meio de uma tarefa, sinto necessidade de me esconder no quarto pra chorar, a sensação é de alívio, aquele é um momento meu a sós com a dor.
As lágrimas quando molham a roupa de cama, elas materializam a dor, então assim eu posso tocar a dor, posso sentir a dor, posso me agarrar a dor, e também observo a quantidade da dor
A dor assim materializada, é a constatação de que parte dela, já consegui arrancar lá de dentro
Então vamos convivendo com a dor
E cada vez que volto para minhas tarefas com os olhos inchados, mais vazia fico de dor
Agora neste exato instante que falo da dor, ela não é parte de mim, ela está em mim até que eu consiga extirpá-la por completo.
Não sei quantos rios de dor ainda tenho para chorar, mas sei que é um processo dolorosamente longo.
E aceito viver ele, com a esperança que cada dia faltam menos
E haverá um dia que só vou precisar ir para o quarto uma única vez
Neste dia, quando expelir a última gota de dor, eu haverei de botar elas no varal
E um novo sol fará com que se evaporem.