O crime do outono

O crime do outono não é secar as folhas, amarronzá-las e torná-las quebradiças sob os pés andarilhos, nem é o galho nu contra o céu cada vez mais frio.

O crime do outono não é o nevoeiro da manhã tornando suspeito o horizonte, nem é o golpe de vento levando embora rascunhos esquecidos em cima da mesa.

O crime do outono não é o dia cada vez mais curto se apertando contra as horas para que caiba a noite cada vez mais funda, nem é o verso introspectivo murmurado contra uma xícara de café.

O crime do outono não é se enfiar indecisamente entre dois extremos.

O crime do outono é a sutileza envergonhada - quase como quem pede desculpas, quase como se fosse um erro - com que arranca do mundo as coisas velhas.

Cesar Bueno Franco
Enviado por Cesar Bueno Franco em 08/04/2022
Código do texto: T7490764
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2022. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.