O crime do outono
O crime do outono não é secar as folhas, amarronzá-las e torná-las quebradiças sob os pés andarilhos, nem é o galho nu contra o céu cada vez mais frio.
O crime do outono não é o nevoeiro da manhã tornando suspeito o horizonte, nem é o golpe de vento levando embora rascunhos esquecidos em cima da mesa.
O crime do outono não é o dia cada vez mais curto se apertando contra as horas para que caiba a noite cada vez mais funda, nem é o verso introspectivo murmurado contra uma xícara de café.
O crime do outono não é se enfiar indecisamente entre dois extremos.
O crime do outono é a sutileza envergonhada - quase como quem pede desculpas, quase como se fosse um erro - com que arranca do mundo as coisas velhas.