Meu jeito brega de amar
Em pleno século XXI, onde a parada da estação do trem da vida foi em um mundo líquido apontado para o sentido de que "tudo o que é sólido se desmancha no ar", tenho um jeito muito brega e insólito de amar.
E pasme, parece que não cheguei ao meu destino com as malas prontas, tendo em vista que quando o trem pausa o seu deslocamento, dificilmente estou preparada para desembarcar no próximo vôo e deixar para trás no automático todas as memórias, registros, visualizações, sentimentos e lembranças que o anterior destino me deu. Os processos ternos que o desaguar do destino me proporcionou noutra via ganham uma força imensa no oceano que reside no interior de quem se conduz na viagem, é como uma cláusula pétrea da Constituição de determinado país.
Mas em meio a tantas interrogações e reflexões simultâneas que os trajetos traduzem na alma, e sobretudo movida pela consciência fática de estar na qualidade de uma passageira em um planeta que foge tanto à própria lógica do que aprendemos acerca dele, reside em meu próprio eu a assunção de que muito mal sei dizer adeus, e de que uma das maiores virtudes de um ser humano é dar um jeito de rir de si mesmo, bem à moda do que diz a linguagem popular no dia a dia: rir para não chorar!
Não sei se até aqui já está tão evidente, mas noutros termos quero dizer que quando eu amo, o meu amor é brega, cafona, antiquado, idealizado dentro da fôrma em forma de coração de um jeito que nunca dá para esquecer, de um jeito transcendental à mente de qualquer poeta apaixonado por escrever sobre o que vem de dentro, em que pese eu também seja exímia em ser o meu próprio lar. Esse jeito tão "fora de moda" nesses dias atuais de amar cabe facilmente em um roteiro de um filme, só não é cabível em quem é raso e desprovido de intensidade...
E queres mais saberes a mais? Deus me livre de amores que não despertam a vontade de tirar os pés um pouco do chão, que não permitem encaixar sequer uma mísera trilha sonora no ciclo que se vem e que inevitavelmente por casos fortuitos da vida muitas vezes se vão, que não permitem fechar os olhos e sonhar com o vestido branco, o véu e a grinalda, ainda que você tenha um pouco de pudor em expressar isso para não parecer tão fora da realidade em um século onde amar puramente é rarefeito. Apesar do amor romantizado ser tão calórico e cheio de açúcar, ao menos é mais verdadeiro. Verdade! Essa é uma palavra chave.