Versos pórticos ao abismo de um sonho com uma música sem ritmo
Eu sou um idealista? Não, eu não sou. Quem diria a mim que eu, sendo eu, sou mais que isto? Ou, quem, a ti dizendo isto não diz nada a menos ou a mais que isto? Que seria isto? E o que sendo este, não é o mesmo que aquele, quem diria? Ou, até mesmo, que isto não tem ou não é, por ter em si é, um transbordar? Mesmo que milimétrico transbordar? Ah estes versos que não me dizem nada, tão versos por não dizer no dito e se digo, não mais. Como poderia eu um dia vir a ser o que sempre fui? E como eu, que não sendo em consciência, até então, poderia saber que tornei-me, e não apenas tornando estou? E que tornando seria este, este que seria, não é? Ou, não é mais por perguntar? Pergunto-me, como ventos que correm em minhas janelas, mil janelas do meu quarto imaginário e disforme, como um sonho inaudível de uma ópera, toca-me? Como não pensei em ser algo, fui-me em tudo que, porventura, julguei acreditar; sou agora mesmo para mim nada daquilo tudo. Versos pórticos para o infinito, o infinito maior de todos e tão inúteis, tão inúteis como trechos retirados de um para-brisa; carro ante ao abismo correndo a mil por horas ao desconhecido; sem quilômetros, sem distância que não seja não a ter. Ah percorro-me abstratamente e afogo-me no indizível de um sonho aquém do sonho e uma ópera aquém das notas e das ondas. Percorro-me e elucido-me distante de tudo. Transbordo no nada, construo e destruo. Percorro-me e encontro-me. Encontro-me e perco-me. Em quanto tempo hei de perder-me nisto tudo? Em quanto tempo a o nada de sufocar-me? Como versos que não cantam me incomodam? Como gruídos de vermes me alienam? E como gruídos vermes tem, se é que tem? Nisto tudo, que é nada, me tem? Ahh consciência ínfima diante do todo, consciência reles diante de tudo, como pássaros que cantam o mesmo canto esperando um dia vir a entender o canto. Substantivei tanto que perdi-me no processo, nomeei e descrevi tanto tantos que julguei-me alter ego e ousei fazer destes versos versos só por ser eu. Não cataloguei, também, sobretudo descrevi e concetuei, como equações vetoriais, e aproximação linear do que seria o saber, saibamos. E neste imperativo que me dei por visto, na razão do faça/saiba, desapontei-me e daí pergunto-me, seria isto uma falta de ego, ou um destino teleológico sombrio de uma música sem nota, num compasso predeterminado por um ritmo e andamento alternado ao desejar do fantoche?