Dedinhos travessos
Dedinhos travessos percorrem as teclas do piano de cauda , dormente na sala imemorável , palco de lembranças emolduradas nas paredes , arcaicos saraus que o tempo solidificou para sempre.
Perfume de amores esmaecidos , captando a vida , nas cartas esquecidas sobre a poltrona de veludo azul.
Quem ousaria acender essas chamas , que nem o tempo conseguiu apagar?
A música , a valsa , as longas conversas , os pequenos segredos , que se aderiram aos copos vazios , rubros de vergonha.
Quem teria a coragem de dedilhar o teclado e acordar os fantoches que ali moram ?
Gardênia SP20/3/22