Catarse

- Eu sou como estrangeiro em qualquer parte do mundo. Eu sou o do nunca. - Lispector, “ Um Sopro de vida”

(Falando alto) - Sonhei com adjetivos avermelhados pela manhã e comecei uma escrita sem nexo! Sem espaço, sem tempo, ilogicamente inútil. Uma escrita que é judas da regra gramatical. O legalismo da letra aumenta minha capacidade para ser tolo!!

( Falando ainda mais alto!) Porque escrevo em silêncio e movo palavras ao grito do nada. Ao mover estas letras movo-me a mim mesmo. Tenho gosto doce na boca, escuto Brahms, sou fino, chique, mas triste que dá dó. Ah, dizia a poeta “a solidão é um luxo”; pois, então, sou mais luxuoso que o rei Salomão em toda sua glória!!

(GRITANDO!!) Sou filho do silêncio de uma manhã de domingo, sou um aborto fecundo de vacuidade, sou animal livre absolutamente, bicho que come palavras, ignoro a vida pela arte. Já disse que sou chique? A elegância do conhecimento me fez só. Tenho um frisson pela tristeza aguda- ela crava uma dor no meu tímpano. Quando nasci me colocaram um substantivo próprio como se fosse um número. Mas não quero ser esse nome, quero ser meta-palavra, aliás, não! Basta de letras!! Aqui jaz esse palavrório que... (Silêncio).

Arthur Guimarães
Enviado por Arthur Guimarães em 20/03/2022
Reeditado em 20/03/2022
Código do texto: T7476974
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