"... UMA MULHER COM SEU AMANTE."
A agonia atacou meu peito. O desejo me inflama e sei bem do que tenho fome e sede. Tu também sabes... Lembro de ti, que há tempos não procuro, começamos com muito tesão, mas acabei largando-te para dar atenção a outros que nem valeram tanto a pena assim.
Quando te encontrei, estavas exatamente onde o vi pela última vez. Tirei-te do conforto onde estavas? Tão quieto... sei que há muito não te procuro, mas bateu um desejo tão forte mal pude conter para chegar aqui. Eu não tenho tempo para conversas, só tenho essa tarde livre, então, começarei com as preliminares.
Minhas mãos passam suavemente pela tua frente e depois por trás, como se eu fosse desprovida de visão e estivesse te conhecendo por meio do toque. Acaricio tuas orelhas, o ar quente que sai da minha boca te atinge em cheio quando expiro depois de inspirar esse cheiro que tanto me excita e aumenta minha expectativa.
Depois de acariciar, parto para a descoberta de teus segredos mais profundos. O que me dá mais prazer? Decifrar-te. Ouvir o que contas nas tuas entrelinhas, onde passo suavemente meus dedos esperando ouvir algum barulho surdo além dos que eu faço. Sento numa poltrona contigo em meu colo, me preparo para a parte mais quente: beber do líquido amargo e quentinho que sempre engulo e que assinala teu mais lindo clímax.
Após devorar-te em uma tarde inteira, ainda sinto teu cheiro de tempo parado. Teu clímax que me fez pular na poltrona me deixam extasiada e sem fôlego como se tivesse gozado uma vida inteira, a qual nunca vivi, mas experimentei graças a ti. Foi uma tarde prazerosa, onde morri para o mundo. Tua forte brochura, que de broxante não tem nada, ainda enche minha mão. Olho para a xícara vazia de café e penso que concordo com Clarice Lispector: eu "não era mais uma menina com um livro, era uma mulher com seu amante."