PELO DIA DOS PAIS

Amanhã é o Dia do Pai, no meu país. Provavelmente noutros países será noutro dia qualquer, o que não muda a minha intenção de homenagear aqueles que nos deram vida.

Pais ou Mães, não importa, são ambos parte de uma equação maior sobre a qual nos devemos debruçar, e tentar avaliar como tem vindo a ser menosprezada e maltratada essa que é a base de toda a família.

Hoje, vivemos num mundo de direitos, e todos os temos em abundância. A coisa muda quando se fala de deveres e obrigações, e as narrativas sucedem-se numa tentativa de fazer crer que os direitos são sistematicamente desrespeitados, criando gigantescas situações de injustiça. Muitas vezes são, sim, mas raramente desrespeitados por aqueles que há sanha em condenar.

Claro que os direitos de uns são os deveres dos outros e, no caso de pais e filhos, é óbvia a cada vez maior responsabilização dos pais pelos direitos dos filhos. Entretanto, a recíproca não está sendo verdadeira e vejo -mesmo no nosso mundo latino e mediterrânico, onde os valores afetivos ligados à família são ainda importantes- pais caídos no esquecimento, abandonados por filhos a quem protegeram por todas as formas ao seu alcance - tantas vezes com sacrifícios enormes dos quais nunca se lamentaram.

Claro que há exceções! Umas visíveis, outras não.

E depois de tudo isto, considerandos mais ou menos efémeros que antecipam a minha vontade de criar um texto significativo, eis que deixo brotar as palavras que me assolam em vagas - muitas delas de pura gratidão e saudade.

Encontro-te, Pai,

nesses gestos das minhas mãos

que tantas vezes copiei das tuas.

Encontro-te nas minhas opiniões,

que tantas vezes foram as tuas

-mesmo naquelas que tanto refutei

enquanto crescia, e a vida

me ensinava as pequenas lições

que tu nem sabias saber.

Sei que me deste o teu melhor,

me ensinaste o que podias,

sem saberes que sabias mais,

e que um dia, na tua ausência,

tudo isso te tornaria eterno

enquanto eu durar,

e a mim grato enquanto

durar em mim o teu exemplo.

E quando discordarmos, quando

eu for além do que me deixaste e

encontrar claramente a fronteira

das nossas opiniões não coincidentes,

que me entendas, pai,

pois, no fim de todas as contas,

eu cresci como era suposto crescer

-para além da soma de nós dois.

E hoje, o meu orgulho nasce

não por ser diferente de ti,

mas por te conter, e ao que me deste,

e por a isso ter acrescentado

algo que é só meu

-e por isso te exibo contente

nos meus gestos,

moderando-me nas cóleras,

relutando no imediatismo das descrenças,

e permitindo-me as lágrimas

que a vida pouco te permitiu.

No meu abraço de hoje,

recebe, pai, a minha gratidão

que será para sempre.

2022