Porta fechada

Cravo as mãos em portas fechadas pelo tempo, este meu algoz

...arranho, esmurro aos berros e chutes, e só ouço o silêncio

Esse universo tão quieto que decidiu não ouvir meu clamor, estou imersa na densidade de tantos por quês, que afunilam minha alma, espremem e devastam.

Sou confrontada com o choque de saber hoje que nada importa, que nada se comove, 

a minha dor é só minha, que gritar não mudará minha sina.

Tornei-me prisioneira por detrás desta porta, meus tantos fracassos assobiam sandices, neste silêncio sem respostas.

Sou golpeada infinitas vezes pelo punhal que atravessa minhas tão escassas esperanças,  que da minha retina foi arrancada a visão da criança.

...por esse olhar, vejo-me num palco de horrores chamado vida, e não importam meus esforços em atuar, em mudar o roteiro   pois está determinado o desfecho...

Sinto-me um fantoche, sacudida pela ilusão de poder irromper a porta que foi fechada,

e não importa, a prece, o choro, o caminho desafortunado dos meus dias, tornei-me pedinte no mundo, tudo agora é tão óbvio,  tão claro que queima meus olhos

Agora é tarde...palavras não mudarão mais nada, a crença, o sonho, num tempo que já não tenho, os caminhos até aqui foram frustrados, pela inocência de pensar que o universo quebraria o silêncio.

Hoje eu sei que palavras não são ouvidas

que injustiças não são vistas

os atos se corrompem

que a dor não é sentida

... e que minhas preces não são atendidas

Preciso suportar o peso dessa existência desvalida.