COMO BEIJAS, DONA-BEIJA!
(Resposta à belíssima Crônica de Paulo
Tadao Nagata- Monita, a Rolinha Sociável)
Este chove-não-molha me deixa frustrado
É tempo bom para quem vive noutro planeta...
O astro-rei há quase um palmo de se despedir
Ainda cintila, garantindo ao final do dia
Muito calor para a noite que já desce sua cortina!
Nesta tarde somente nós dois- Dona beija e eu
Sou remetido àqueles longínquos dias quentes de Paracatu
Dos tempos áureos do século dezoito
Lembrei-me daquela fonte de Araxá
Onde ela, rotineira e sem muito recato
Tomava seu banho matutino ou vespertino
Fosse em que hora fosse, era motivo de se esbarrar
No caminho, para vê-la no seu dia-a-dia de luxuosa cortesã
Dona de metade Minas, Goiás e alhures,
Que a seus pés se prostravam!
-Ó Dona Beija!
Neste momento me recolho ao quarto
E tento descrever a emoção sentida:
Nesta tarde somente nós dois- Esguicho
bem alto a água da mangueira, de que tanto precisava-
Ela faceira, não se descompõe
Sua capa de um azul-ferrete a cobrir todo seu esguio corpo
Dava-lhe a dignidade que tiraram da mulher-dama
Daquelas terras do ouro e di-amantes!
Com sofreguidão, não sabia se tomava da água
Ou se nela banhava, dentro daquela
Imensa catarata que se formava!
Lá estava ela, sem tempo para se despedir
Há pouco mais de dois metros à minha frente
Assentada na pequena árvore de Lichia
Guardiã da jabuticabeira, mais velha, ao fundo
Tomava despreocupadamente seu delicioso banho!
Naquele passado fora generosa, emprestando seu nome àquela Mineira!
Às vezes nos acontece de precisar, desesperadamente
De um chuveiro, assim, no fim de um dia quente de viagem
E isto não está disponibilizado no momento
Simplesmente, por falta d’água!
Sabe, amigo Tadao, rolinhas e beija-flores são mesmo
Seres sociáveis, numa troca que conosco fazem:
Damos, ou propiciamos a eles, víveres, água, proteção
E recebemos sua honrosa e inusitada visita, numa monótona
Tarde quente de quase verão!
Ansioso para que chegue novo dia
Quando estarei espiando, com todo respeito
Dona-Beija, se regalando nas cataratas do meu Quintal!
A religar suas potentes turbinas e desaparecer
Num instante!
Sobradinho-Df, 21/11/07