Meus inesquecíveis e conturbados anos 90!
No inicio da década de 90, o movimento grunge nem bem havia chegado à Parnaíba. O que era comum de se escutar pelas ruas da cidade, eram canções e estilos oriundos da década anterior, como Legião Urbana e Cia, somados aos ritmos de Madonna e Michael Jackson que ainda ecoavam pelos “ouvidos e mentes” de uma geração que herdou o fim do período ditatorial militar.
Foi nessa ocasião que comecei a perceber os sons que os carros faziam, ao rodar a noite pela cidade, transformando o que antes era a apatia de uma rua deserta, numa euforia de se admirar.
Era chegada a adolescência, tempo de sair, de espiar, beijar na boca, suspirar, época de viver, de sofrer e principalmente de desejar. Tempo que os brinquedos seriam deixados de lado, em razão de outras coisas, como por exemplo roupas, perfumes e garotas…
Uma época de promessas e ilusões, que se misturaram com toda uma nova forma de vida, pois afinal um mundo complexo surgia diante dos meus olhos e a sensação de “formigamento” percorria a alma à procura da noite, das ruas e das festas…
Enquanto escutava no meu Disckman o rock norte- americano de bandas como Guns n´ Roses, Aerosmith e Bon Jovi, milhares de sensações percorriam o meu ser, que inundado por essa nova maneira de enxergar a vida, me impulsionava a lugares físicos e psicológicos nunca antes desejados (alguns nem ao menos imaginados).
Nos primeiros anos, tudo era novidade, na procura de me encaixar melhor nesse meio chamado sociedade, que de tão complexo e exigente, não costumava medir esforços para punir quem não estivesse de acordo.
Confesso que, no principio, até tentei me manter no “nível”, porém com o passar do tempo fui me desligando desse tipo de “prisão social”. A música de Alanis Morissette percorria meu corpo e me elevava a outros níveis, me mostrando que eu podia ser quem eu quisesse, e não o que me ditassem…
Então vieram as primeiras lágrimas, entre erros e tropeços, eu buscava me equilibrar num copo de “cuba libre”, no intuito de sobreviver às pancadas que recebia, tentando me esquivar das armadilhas impostas pela vida, na busca de não ceder à pressão de quem me rodeava… Porém por mais que eu resistisse às inúmeras dificuldades que encontrava pelo caminho, acabava muitas vezes, por abrir janelas para um sentimento que bem se assemelhava a uma depressão.
Com o tempo, me encontrei numa situação em que calmante algum aliviaria, e enquanto ouvia Radiohead no volume mais alto, para que eu não pudesse escutar o grito desesperado que meu coração emitia, idéias iam fluindo, emoções afloravam, pensamentos sobre morte eram comuns, quando as ilusões se tornavam desilusões, no instante em que promessas eram descumpridas, fazendo com que a insatisfação enfim alcançasse sua presa, e esta, com que um vampiro sugando cada gota de otimismo, me deixava como um zumbi, um morto–vivo que vagava por entre a neblina, com um desânimo de morrer, num quadro assustador de mediocridade e desolação…
Porém, nem tudo estava perdido, pois se aproximava o novo milênio, momento que perceberia, que a adolescência iria me abandonar, para ceder a vez a maturidade, hora de enxergar os sonhos não concretizados e também perceber os novos que surgiriam. Era o momento de fazer uma promessa, de que as lágrimas nunca mais cairiam, de que a inocência não seria mais vivenciada, mas sim lembrada em algum dia chuvoso ou calmo demais… Seria preciso ser forte, pra não ceder, num futuro onde nem todos os desejos foram realizados, mas que momentos felizes chegariam, e com estes, o sorriso, a satisfação e a entrega… E dessa forma passaria viver o dia com maior intensidade, e deixaria a noite, apenas para ficar guardada na memória…
“ … Nos piores momentos de dor, eu costumava me esconder na noite, no intuito que o dia não me alcançasse, e assim me fizesse lembrar do que não tinha… E ao chegar em casa, trancava a porta da ilusão, sabendo que o futuro não poderia ser pior, me perguntava apenas se seria menos angustiante, era quando fechava os olhos, e levantando, caminhava em direção ao aparelho de som, para então desligar a música.
Claucio Ciarlini (2009)