Peças quebradas
Você era pra ser a pessoa que me faria sorrir ao acordar todas as manhãs. Seria quem riria de minhas piadas, enquanto eu fazia cafuné em sua cabeça. Era pra ser aquele relacionamento tranquilo que todo sentimento e compreensão iriam fluir de maneira tão calma que as brigas iriam parecer apena uma ventania que chacoalhavam as árvores do quintal. Mas a verdade é que depois que o tempo passou, as nossas mãos já não se encontravam, e a tão sonhada estabilidade não chegou e a tua insegurança se fez presente a cada momento do dia. Nossas brigas transformavam-se em tempestades e eu era a única disposta a fazer a confusão cessar. É interessante como nossa relação tornou-se doentia, era apenas uma busca constante de duas criaturas desesperadas pelo amor, mas que não sabiam encaixar as suas necessidades. Você era aquele que temia que a qualquer momento eu fosse embora, tornando a convivência infernal e proporcionando uma situação insuportável para mim, pois eu precisava a todo o momento provar que te amava. Como conviver com isso? Eu estava abrindo mão do meu conforto para lhe conceder momentos felizes. Amar era pra ser assim? Não irei dizer que alguém foi o culpado, ambos nos destruímos. Foram palavras, foram ações e impulsos que magoavam aos dois, havíamos nos tornado armas apontadas, um para o outro, nos matávamos aos poucos, masoquismo ou imaturidade? Éramos um, mas nos tornamos dois de novo. Viramos apenas peças quebradas incapazes de conseguir encaixarem-se de novo.