Homem bêbedo _ 2
Arranco do meu ser, como uma catarse cirúrgica e um medo de não ser, o ser que é estando sempre, que denomino eu. Surprendo-me com a semelhança daqueles que um dia já foram e são em mim por o serem. Semelhança esta que desafia a memória em contínuo, que constitui algum eu, sequer eu e tu, sequer tu e tu, isto tudo está além de tudo e mais ainda. Ah que versos loucos de um homem há um passo de um infarto e um infarto há um passo de não ter-me. Não me ter este ortográfico, genuíno e corretíssimo que não me interessa, interessa-me e nada. Como sou neste nada e neste nada em que desencontro-me na ausência de explicação para esta tal melancolia, situo-me no além, no paraíso além do Olimpo. Não grito, não resmungo e persisto no erro discreto de não ser, como uma porta sempre a outra e um abismo sempre a outro, que é mesmo que nada. Me chamam por não chamar-me e recuso por me importunarem em deixar-me, sem ao menos saber o que é deixar e o que viria a deixar. Persisto no que denomino de eus e me aglomero em cada canto verso, quanto verso, tantos versos, tão verso que eu.