Da boca para os olhos, um pedido...
Privilegiados e egoístas, olhares meus
Ainda que em tua, lograda, turva e pouca visão
Vistes, veem e verão a tua mira, mais bela boca desenhada
Que a minha condenada, coberta, forçada ao silêncio
Obrigou-se calar, a não sentir aida, seu gosto!
Veja por mim, tentes fracas, nebulosas e estafadas
Seus contornos, que se seguem em suaves movimentos
Descreva, qual o brilho e cores têm, seus apetitosos adereços
O que tanto soletra mansinho, a meus também, sortudos ouvidos
Traduza se possível, revelando a doçura vista e atestada, desse sabor!
Entre de vez, nesses pares de olhos atentos-acesos
Quão luz intensa, que por certo escondem solitários segredos
Frente a frente, penetre, decodificando seus sais de prantos
Suas dores, seus ‘ais’, seu tudo, seu nada, suas dores e medos
Diga-a por mim, imerso nessa escuridão, que quero provar seu paladar!
Agora, porque derramas em mim, molhando tecido seco?
Me conte, se dela seus olhos também sentem pavor e lacrimejam?
E se sim, narre por mim sem pudor, confessando que lhe estimo
...que meus lábios sequiosos, ressentem uma falta absurda, dos seus
Louco a provar o que dela desconfio, que ela sua boca, é feita de mel!
Obrigado meus olhos tristes, por me traduzir, nuances de uma deusa
Por serem por mim, espectadores fiéis e compassivos de meu anseio
Que souberam levar, como ponte a tal “boca”, meus urgentes desejos
E que indo além, conseguiram traduzir como ninguém, essa ânsia
A revelar, o que não posso ser mais que tímidos versos, a clamar beijo seu!