Exaurido de ser quem eu sou
Pergunto-me de manhã quando o sol insiste em me acordar
Onde estou? Como estou? Onde vim parar?
Onde está o moço homem que era destemido perante o mundo
Quando vestiu esse manto turvo e deixou de sonhar?
Calo, respiro, escovo os dentes
Há a academia, o colégio da filha, tantas e tantas ilhas
Há o trabalho e faculdade e onde mais vou naufragar
Há o remorso, há a magoa, há o medo de errar
Cumpre tuas funções e sabe porque o fazes
Procura o sabor e não encontra, como pode encontrar?
A dor já não dói tanto assim
O dinheiro já não é tão escasso
Os dias são menos inseguros
Mas sente falta quando tudo se resumia a lutar
Foi a nocaute, levantou, não pode dizer que não ganhou
Ganhou, lutou, lutou, lutou
E agora vive de luto
Perdeu-se antes mesmo de se encontrar
Aquele coração aberto onde ficou?
Ainda é jovem, ainda é moço
Mas as lembranças do que passou
Sente que é a fração de tudo o que lhe restou
Cansado, cansado
Exaurido de ser quem eu sou