Pessoa
O que há em mim é sobretudo ânsia do inalcançável,
O indizível de um sonho que ninguém ver, uma janela sempre porta à outro,
E uma porta sempre nada a muitos outros, que não são outros em nada.
Diria eu o que serei, quem sabe eu o que seria? Ou quem nestes versos,
Que não são meus, saberia quem sou? Sou e já não mais, surjo, ressurjo
E regurgito um saber que saiba, uma porta que não é janela e uma janela
que não é porta. Mas sempre peco no tentar e que por o tentar, perco-me
E perdo tudo que não tinha por uma certeza de não a ter.
Sou um louco em prantos, angustiado de sua finitude, em sua agonia de não ser.
Quem seria eu aquém de tudo? E aquém de tudo, tudo mesmo, seria algo que não eu?
Possuo-me e perco-me, enquanto perco-me encontro e no enquanto encontro, sou
E ah, ah como sou estes versos no enquanto, como sou, como versos tricotados e jogados
À planilha de um esconder-se e um soto de uma música sem ritmo.
Perco-me e em vãos escuros do meu ser iluminei-me e acho, creio, realmente... Cri,
Mas perco em tudo, desencontro-me em tudo, acho-me em cada verso nesta escuridão a iluminar-se,
A passos curtos de uma lamentação de não encontrar-se, nestes cantos sujos e esquecidos de um vão.
Ah vã filosofia de não ser e tão vão quanto o vão do corrimão de quem a carrega.
Seria versos o que escrevo? Ou seria versos o que não digo e o que não digo se não versos?
Sábios pássaros em ventos e ventos de ventos em pássaros, ou ventos em ventos de pássaros?
Ou o nada de tudo isto que é o mesmo nada de sempre? Iluminar-me-ia e nada, tudo...