DEPOIS DO SILÊNCIO

Silêncio  dos versos, siêncio de mim...necessidade de estar a sós comigo num diálogo aberto com meu eu. Tentativa de entender o universo, encontrar o ponto de equilíbrio entre a razão que tudo pondera e os reclames da alma inquieta que sobrevive  às tempestades que enchem rios e mares, que transbordam da inquietude das palavras salgadas... Das letras descarriladas.

Quando a percepção estrábica desvirtua as intenções quanto mais se apressa em explicar, mais muda o rumo da prosa, e mata(da vida) a poesia.

O que é verdade  torna - se insulto e  ousadia.

Quando o ego fala mais alto, aliado ao medo, transforma em loucura toda justa palavra.

Toda a simplicidade da pureza de alma se converte em ironia; toda empatia, tentativa de sentir o que se passa do outro lado  resume - se em nada... Nada de amizade, de recíproca solidariedade.

A injustiça se sobrepõe à justiça se a pressa em julgar se traveste de sabedoria, erra - se no julgamento e pune-se com açoite de desprezo a mão que se estendeu só pra pedir ajuda, afinal... Ou não deixar tão mal...

O amor do ser humano  é desumano:

Muito se diz a seu respeito, rimas são tecidas em linhas da vida, em nome do nobre sentimento. Há, porém, tanto ressentimento, egoísmo e fragilidade, medos e segredos negados ao próprio eu, vultos e fantasmas do passado, trazidos de outras idades, de outras vidas, talvez...coisas que não consigo entender.

Se houver outra chance, outro encontro na sala VIP do universo, talvez uma luz diferente possa tirar a trava do olhar e tudo volte ao devido lugar: Quem é do bem seja visto como tal... E quem tem medo volte a ter confiança; Quem se apressa em julgar volte a si e deposite sua esperança no bem  sem que se precise tanto explicar, tampouco de justiça falar.

E que a natureza de amizade, em sua essência, devolva o ser humano ao paraíso com amor singelo e naturalidade nos atos, sem desacatos.

Se outra chance surgir, há que se ressurgir a esperança e o universo irá conspirar para se alcançar a paz e o amor, de paixão ou de amizade, tomará os corações e haverá compreensão e a justiça prevalecerá contra toda maldade. Quem sabe, até, as rimas façam sentido, talvez a poesia me sorria, de verdade, como se com ela eu tenha tido afinidade em outros tempos, noutro céu, abraçada à lua e às estrelas que iluminaram sacadas e seresteiros, como nos meus parcos poemas de agora...

Quem sabe o silêncio dê lugar a um grito?

Edla Marinho

(16/12/2022)