As dores que fizeram de nós quem somos.
Das coisas que sabemos
Outras aprendemos
Pelas lutas que travamos
Pelo tanto que sofremos...
Quem vê as duras faces, nunca soube
O mar de lágrimas que por elas rolaram
Viver uma vida que nunca nos coube
Que sobreviveríamos, nunca cogitaram.
Barganharam nossos sonhos por nada
Calaram nossa voz por certo tempo
Em desespero o céu elas contemplavam
A fim de cessar tanto sofrimento.
Do monturo, das cinzas elas emergiam
Quem vai lá perambulando, és Maria!
Respiraram, inspiraram ares de morte,
Engoliram a própria dor, tornaram-se fortes.
Porque elas são dessas mulheres
Que não se pode calar, seu dom de regenerar desafia a ciência
A sua magia flui de sua essência
Que não se permite acovardar
É tanta intensidade que assusta
Essas Marias são almas antigas
Que desfaz numa prece a angustia
Que depura todo peito em agonia.
As dores fizeram serem o que são
Uma rocha de poder colossal
Sob a imagem, o sexo frágil em questão
Sob o manto de fragilidade, habitam seres de um poder sem igual.
As dores, os escárnios, as decepções
Fizeram-nos destacar na multidão
Místicas mulheres que caminham na escuridão
De passos firmes, carregando na alma
uma inebriante imensidão.
Quem nos maltratou, nos feriu,
nos humilhou, nos apriosionou...
Hoje sabe que a dor nos pariu
Toda sorte de maldades nosso grito libertou.
A vossa falta de amor nos moldou...
Forjou no fogo ardil toda nossa coragem
O resgate de nossa identidade
Reza a lenda que hoje somos Marias
Paridas na luta pela sua dignidade.
Andreia O. Marques
Maria Mística
Marias do Brasil