A TRAIÇÃO É A MAIS COVARDE DAS ESCOLHAS
Texto da escritora ANA MACARINI.
A TRAIÇÃO É MAIS COVARDE DAS ESCOLHAS.
Supondo que a pessoa seja acometida por um arrependimento monumental, que amargue um tremendo remorso e se afogue num mar de culpa… aquele que traiu jamais terá a dimensão exata do buraco gigante que cavou no peito do outro.
Ser traído é ter a confiança roubada pelas costas. É ter a inteligência subestimada e a autoestima picada em minúsculos pedacinhos.
A dor da traição é extremamente complexa, porque quebra no interior daquele que foi traído os alicerces sobre o qual fora construída a relação.
Ser enganado altera a capacidade de interpretar os sentimentos. Ficamos frágeis, confusos, temos dificuldades em discernir o que é real, do que é ilusão destruída.
Não raras vezes, aquele que é traído acaba buscando em seu comportamento, em suas atitudes, a razão para tudo o que aconteceu; torna-se suspeito do mal feito não por ele, mas pelo traidor.
E dói. Dói por inúmeras razões. Dói porque é desnecessário, dói porque diminui a importância da história partilhada por anos de convivência, dói porque não há nada que justifique a quebra de confiança.
A traição é a mais covarde das escolhas. É a opção pelo caminho mais fácil. É arrastar para dentro de um buraco um passado que deveria ser honrado e ter valor.
Perdoar a traição é dessas coisas que fogem à nossa capacidade racional. E quando acaba acontecendo, muitas vezes é porque existe nessa atitude uma esperança em fazer cessar o sofrimento.
Perdoa-se numa tentativa de retroagir, como se fosse possível apagar os danos. Quase sempre não é. E o tempo acaba revelando fissuras no relacionamento, trincas por onde emergem ressentimentos, mágoas e culpas.
Por mais que pareça triste, no fim das contas o melhor que se pode fazer é cortar os laços mesmo. Deixar que a ferida cicatrize em paz. Seguir em frente e deixar que o outro descubra por si mesmo que havia outra escolha, ele só não foi capaz de fazê-la.
E depois disso, de ter sido capaz de desenhar no fim dessa história um definitivo ponto final, projetar para si mesmo um modelo mais saudável de relação, na qual o compromisso seja partilhado, assumido e respeitado por todos os envolvidos. Porque errar na escolha do parceiro uma vez é humano, persistir na escolha errada é falta de amor próprio mesmo.