Carnaval? Como assim???
Mas eu estava aqui pensando com meus botões, o que será deste povo sem carnaval, a droga do pensamento não me sai da cabeça. No mínimo a Terceira Guerra vai ter seu ápice aqui. No RS não damos tanta importância aos festejos de Momo, a não ser no extremo sul do Estado, Pelotas, Uruguaiana, Rio Grande e outras cidades, mas aqui, bem no miolo, na capital, o carnaval nunca foi o maior espetáculo da Terra. Uma coisa bem pitoresca em certas localidades ou na praia... muitos vão até de bombacha para os bailes, coisa que a Nasa não deve ter visto ainda. Em Porto Alegre, tanto fizeram, que levaram o desfile para os cafundós, bem distante e pouco acessível para o povo.
Mas quando penso nos paulistas, nos pernambucanos, nos mineiros, cariocas e baianos sem carnaval, é sinistro. Chego a ver a baianada de cama, delirando de febre, tendo convulsões e tomando chá de cidró para se acalmar. Bahia sem carnaval, a meu ver, é como Coca sem gás, é como comida vegana, sem graça em níveis de chuchu. Não vai ter afoxé, olodum e trio elétrico, os bonecos gigantes de Recife já devem ter se abafado em algum canto, nem maracatu deve ter. Claro que é triste, mas o mundo tá meio que desabando, guerra, catástrofes naturais, pandemia, crise financeira, o "sanatório" geral, tipo cego em tiroteio... Buena, Preta Gil já deve estar comendo sacos e sacos de bolacha e Carlinhos Brown (um dos maiores maestros brasileiros), já deve ter entrado para dentro de um turbante, sem previsão de saída). Eu só queria entender como tem gente que se preocupa, ainda, por não ter carnaval, temos que dar um tempo, que se evite o bloco "Jesus, tô indo". Não consigo imaginar mineiro sem carnaval, são malucos por festas. Os cariocas devem estar se arrancando os cabelos, acho que ninguém dorme mais na Cidade Maravilhosa Cheia de Encantos Mil e tudo, vão passar o carnaval em casa vendo TV, comendo feijoadas, cozidos, rabadas e suando em bicas, no máximo, vão estar churrasqueando na laje, nas sacadas (churrasco de alcatra, certamente, pois segundo me disse um amigo do Rio, se for churrascada de costela [carne nobre na Europa], é coisa de pobre, o preconceito vai até na carne). Não! Não! Não! mil vezes não...E o sambódromo vazio, sem baianas, sem as fantásticas baterias, sem os passistas, sem as bundas e os gigantescos peitões de “matéria plástica” (bah! me superei no “matéria plástica”). Os paulistas além de não botarem seus blocos na rua, não vão poder brigar, mano. Pelo menos os mijões de rua vão ficar sem assunto, isto já anima. Na verdade, a usência de carnaval não deixa de ser injusta, claro que o povo que gosta da folia merecia umas reboladas, umas descidas até o chão, mas não é o momento. Volta a pergunta que jamais quer calar, festejar o quê? Temos que agradecer por não levar uns chumbaços da Rússia, que está lavando e enxaguando a alma no descolorido desfile bélico. Tá tudo bagunçado, mas deve haver um conserto, há de haver...Cá com meu botões, imagino que a massa vai para a rua de qualquer jeito, mas vai dar mal. Devido aos juntamentos e aglomerações, periga a coisa piorar, o “corongo” ainda está por aí fazendo estragos sem barulho. Preciso apresentar minha sugestão à OMS no sentido de botar fiscais – tipo cata piolhos – em todos os hospitais. Esses especialistas vão examinar a cabeça de cada vivente, nas filas de atendimentos, para ver se há algum vestígio de confete, purpurina, serpentina e espuma colorida, em caso positivo, bota o folião enlouquecido lá no final da fila, vai esperar, cavalo!
Enquanto o bicho pega por aqui, lá em Cima estarão brincando todos os grandes Reis Negros: Tia Ciata, Pixinguinha, Lamartine Babo, Clementina, Jamelão, Chiquinha, compositores das velhas guardas de escolas de samba, inumeráveis e todas as pastoras. Todos que, mesmo na dor de todos os preconceitos, deixaram de herança a alegria para a nossa gente.