Pássaro ferido
Voou.
Nem muito alto e nem muito baixo.
Apenas voou.
Quando viu, foi atingindo por um tiro.
Não se sabe qual dos caçadores armados que disparou.
Do belíssimo voo de altura média, o pássaro sucumbiu.
Jogado ao chão, ferido, sagrando e debatendo-se em agonia.
Fechando os olhos, o pássaro relembra dos voos, relembra de cada dor.
Num estranho movimento, ou não estranho, ao lembrar das dores, o pássaro sangra ainda mais.
E sangra sem parar.
Se alguém de perto olhar, jamais imaginaria que algo tão frágil e tão pequeno pudesse sangrar tanto e sofrer tanto.
Fora apenas um tiro, mas a pólvora se espalhou e misteriosamente a ferida aumentou.
O pássaro sabe que é azarado demais para achar que a ferida causará uma morte rápida.
Ao contrário, agoniza e sofre em angústia e dor.
Ele sente cada dor e sofre.
É levado a exaustão. Ao máximo da dor.
Não há socorro, não há chance de cura.
O único que o poderia salvar, se foi. Levado por si mesmo.
O pássaro ferido resta só.
E quem poderia curar, observa de longe, mas é incapaz de fazer algo.
O caçador atirou causando a ferida. O curandeiro vê e permanece inerte.
Enquanto isso, o pássaro segue sangrando.
A bala está nele, aumentando a dor a cada instante.
O pássaro se pergunta que horas há de morrer. E só recebe o silêncio.
Não morre. Permanece ferido.
No meio do nada, no meio do caos, no meio de tudo.
O pássaro ferido continua ferido.
Feridas não matam de uma vez, doem e doem em dor infinda.
O pássaro ferido, de longe, vê o curandeiro cada vez mais distante, e naquele momento tem a certeza de que a cura nunca esteve ali de verdade.
Em um suspiro e usando todas as forças, o pássaro ferido muda a posição, porque espera que assim doa menos.
A essa altura a ferida já infecionou, o pus cobre e a dor aumenta, lateja em cada pena.
O pássaro finalmente aceita e entende que a ferida não vai sarar.