Que coisa boba é o homem
Aquele que olha o tecido
com o teor da volúpia,
despindo-o até que a pele
se funda aos desejos.
Matéria-prima dos olhos
e produto da mente
em um mercado sem commodities.
Acompanhando com o peito
o movimento indecente
em um corredor decorado
no imaginário da paixão.
Primeiro, é apenas sexo.
Depois, uma distração
que cresce, oculta em sombras.
Ele pensa que ninguém vê
os toques arbitrários
e o esqueleto no armário
preenchido com a carne
de uma falsa pretensão.
Mas é tão óbvio e barulhento
quanto a revolta de um detento
ao se ver em uma prisão.
Aos poucos chegam as rimas,
as flores e a poesia
no sorriso desarmado
de quem não se vê errado
em errar tão bruscamente.
O quente dá lugar ao morno
e a saudade assume o posto.
É aí que surge o desgosto,
quando ela vai embora
e uma ocorrência simplória
assassina qualquer proporção.
Os olhos, profundos em lágrimas,
se afogam na própria ilusão.
Que coisa boba é o homem!