Que coisa boba é o homem

Aquele que olha o tecido

com o teor da volúpia,

despindo-o até que a pele

se funda aos desejos.

Matéria-prima dos olhos

e produto da mente

em um mercado sem commodities.

Acompanhando com o peito

o movimento indecente

em um corredor decorado

no imaginário da paixão.

Primeiro, é apenas sexo.

Depois, uma distração

que cresce, oculta em sombras.

Ele pensa que ninguém vê

os toques arbitrários

e o esqueleto no armário

preenchido com a carne

de uma falsa pretensão.

Mas é tão óbvio e barulhento

quanto a revolta de um detento

ao se ver em uma prisão.

Aos poucos chegam as rimas,

as flores e a poesia

no sorriso desarmado

de quem não se vê errado

em errar tão bruscamente.

O quente dá lugar ao morno

e a saudade assume o posto.

É aí que surge o desgosto,

quando ela vai embora

e uma ocorrência simplória

assassina qualquer proporção.

Os olhos, profundos em lágrimas,

se afogam na própria ilusão.

Que coisa boba é o homem!

Eduardo Becher
Enviado por Eduardo Becher em 22/02/2022
Código do texto: T7458247
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