Consenso sobre o Sonho
Nunca fora registrado acontecimento parecido.
Ouvimos falar de muitas coisas, porém de casos isolados:
Que uma pessoa durma perturbada e tenha sonhos assustadores,
Que novidade há nisso?!
Mesmo que durma tranquila, ainda assim poderia tê-los.
Falo de um caso real e incomum, mesmo se tratando de uma pequena cidade
Com pouco mais de quarenta mil habitantes.
Chuva intensa e noite monótona.
Todos se recolheram às suas casas mais cedo,
Visto que o dia seguinte seria de muito trabalho.
Entre relâmpagos e rajadas de vento,
Corpos se debatiam, se contorciam,
Outros se levantam, buscavam água,
Mas retornavam para o mesmo tormento,
Para a mesma fadiga e impaciência entre um delírio e outro.
Uma visão pictórica e irreal das coisas se projetava na mente de cada um;
Ninguém entendia, mas se tratava da realidade,
Da realidade que por ora ainda não era o fim.
Na manhã seguinte, todos se mostravam intrigados ao contar o sonho para alguém:
Os outros haviam sonhado a mesma coisa,
Assim, todos concluíram que tinham tido o mesmo sonho ao longo da noite.
Não demorou! A rádio fez suas especulações
E outros meios de comunicação fora da cidade fizeram as suas;
Concluíram em dois dias que o mundo todo tinha tido o mesmo sonho. A mesma coisa!
Como isso era possível? Uma paranoia mundial?
Ninguém entendia e muita preocupação veio sobre as pessoas,
A ciência não conseguia explicar, ninguém conseguia explicar;
Muitos buscaram a morte sem sucesso, muitos buscaram a Deus sem sucesso.
O desespero foi total e o medo, assolador;
Nações inteiras se levantaram...
Até que a trombeta soou
Para a alegria de uns e a tristeza de outros.