Quem Sou Eu?

QUEM SOU EU?

Um, dois, três e lá vou eu, estou saindo para te encontrar. Brincadeira de criança, gritaria, corre-corre, foge de mim, mas cedo ou tarde vou te achar. Procuro em todos os cantos, em casa, na rua, no bosque, debaixo do avental da cozinheira ou no coreto da praça eu te persigo, o jogo nunca vai terminar. Dizem que você cresceu, mudou de escola, não me deu mais bola, pegou um trem e saiu do bairro sem dizer adeus nem aos amigos que dizia serem teus, deu-me as costas solenemente, por que fizestes isso tão impunemente, logo comigo, tua infância, tua memória, início da tua história?

Bairro novo, colégio chique, meninada empinada, bem nascida e malcriada, semente da geração que pisa no irmão e não pede perdão. Justo aquele que é fruto da outra que só pedia paz, amor e música. Eu não te esqueci, minha busca continua desta vez em bares e boates, flertes e flores, amores e dores, serra e mar, um pouco de tudo que é para poderes dizer ao mundo que estás preparada para o que ele te reservar. Ledo engano, minha amiga. Tu é que aprontas o mundo segundo os teus atos, tu é que te acercas do que desejas. Corro para te acautelares, mas já te enredastes em teias psicológicas que te aprisionam o ser. Casaste.

Acompanho-te ao longo da vida, não te olvido. Considero que há jeito para ti, acredito. Ainda foges de mim, não me encaras pois vês em mim a pureza que no mundo louco de hoje é considerado fraqueza, todos pensam que sensibilidade é síndrome, é doença, que o amor é uma seita, uma sentença que condena o ser a um eterno vagar bêbado e infeliz, não é moderno, não paga a pena. Querida, agora que te alcancei finalmente nem que me expulses ainda me verás pela frente. Sim, há destino, mas tu escolhes quantos espinhos perfurarão tua pele e o quão profundo te deixarás ferir. Abandona teu fardo leia-se como tal quem te faz chorar e o que não te enfeita a alma. Isso... Já não foges mais de mim... Eu sou você, madura, maturidade.