CONTADOR DE MENTIRAS
Existe algo de prazeroso no mundo sem ao qual não vivo: contar mentiras!
E quem não o faz, não é verdade?... Não, não é verdade, eu sei que tem, não sei onde,
mas existem os que existem somente pela verdade.
Não é o meu caso, porque para mim contar mentiras é viver,
todo meu ser brota e deságua de coisas inventadas sem pé nem cabeça,
com uma maestria impensada, no impulso de qualquer coisa que eu precise dizer...
E antes fosse, quem me dera, coisas fúteis, contornáveis e apagáveis pela memória ou tempo.
Mas o que prego como lei aos vivos e mortos é absurdo pautado sem noção de ser. Uma coisa, palavras berrantes essenciais á existência do verme em mim!
Já fui todos que sempre quis ser, já passeei por lugares que morram de inveja por que jamais colocarão os pés.
As mulheres que desejo nem são desejo, e fremente realidade sim! Todas as coisas, pessoas ilustres!
Nem sei mais porque vivo, porque o sonho do ser humano perfeito sou eu!
Apenas o sonho, porque nada que digo, nada que vivo é realidade, são letras dissolvidas em uma ilusão contínua dia-a-dia...
Até que descubram, até que me sacrifiquem, até que a distância me faça um novo ser, como um bebê pronto a crescer outra vez, tenho que botar pra quebrar, a cabeça pra funcionar e fluir estas frases desnorteadas sem direção bem imposta.
Como um personagem me recrio e histórias me contemplam em nova vida: tenho profissão desejada, pessoas desejadas, riquezas, detalhes certeiros que conquistam e abandonam a vergonha na cara da minha realidade, que nem mais existe, que já desistiu de me recuperar faz séculos.
E não pense que me arrependo, que acho errado o que faço, que tenho vergonha se me descobrirem, que tenho medo que me descubram...
NÂO, NUNCA, JAMAIS!
Eternamente falar mentiras, cada qual vive de um jeito, este é o meu: na verdade, fazendo jus á realidade,
onde fantasiam desconfiados, eu cara-de-pau, falando inverdades,
causando invejas á sociedade.
Douglas Tedesco – 11/2007