Agora, não mais...

Era uma noite de verão, calor escaldante, e, eu chegava em casa feliz e animado, após um turno produtivo de trabalho em que praticamente todas as minhas metas foram batidas, atravessei o jardim e aproximei-me de surpresa, bem sutilmente, para espiar-te pela fresta da janela; vi-te deitada, parcialmente coberta, seminua; o ventilador, ligado no módulo intermediário, movia a dobra do lençol, que indo e vindo com seu movimento uniforme, acabava por descansar no mesmo lugar após o giro completo da hélice daquele velho aparelho.

 

Cheio de expectativas, bati palmas, tentando te chamar a atenção e corri imediatamente para a porta da sala, sob a varanda , na certeza de ser recebido por ti com um caloroso abraço e beijos ardentes, como de costume. Tu não vieste tal qual eu esperava, após insistir com as palmas sem obter sucesso, voltei à janela e tu permanecias ali inerte, e em nada reagias.

 

Percebi que o radinho de pilha estava ligado à cabeceira da cama, sintonizado na rádio fm da cidade, na qual tocava uma melodia linda, que eu reconhecia prontamente, porém, só me recordava bem de uma parte dela que dizia: "Mesmo Esquecendo a Canção, o Que Importa é Ouvir a Voz Que Vem do Coração".

 

Esta passou a ser a tua música, passou a ser a canção que me faz recordar-te. Tinha tanto para te dizer e nunca disse; muito ainda tínhamos para compartilhar, além da maravilhosa vida em comum que sempre tive contigo. Agora, não mais...