Sem primaveras

Sinto frio por entre os dedos

frio que estremece

ausência do toque

da melodia dos versos

Ouço o silvo dos ventos cortantes

como aço que tine

que corta e range

fazendo a carne tremer

Debruço sobre as sombras

de árvores secas, e folhas mortas

em seus galhos ressequidos

ouço apenas ruídos em suas copas

Um grasnar abrupto, um gemido.

Anseio os cheiros

os gostos, as cores,

preencher meus vazios

refazer elos rompidos.

Primavera!

que inspira poetas

enaltece amores

quente e doce néctar.

Dos versos meus que faço

apago, refaço minhas mazelas

são ecos, tudo se faz quieto

dias sem cor, persistem as trevas.

Preciso sentir o leve toque

que acende as paixões 

reacendendo vida que pulsa

por entre os dedos, jaz o frio, o cinza,

a dor, a loucura.

Tento expurgar o amargor

um memorial à desilusão

já não sinto, nada sinto...

apenas um frio silêncio, um grito mudo

meu grito...  há tempos deixei de ouvir.

Perdeu-se o tom dos versos

as cores desbotaram, vagueiam em busca de algum som

que traga primavera

ao aço frio do coração.