Mar da saudade

Enquanto um casal de pássaros canta suas elegias, afogo-me no mar da saudade. Torrente de sentimentos represados a ponto de se romper.

Ao longe o oceano me parece um azul infinito. Suas misteriosas águas possuem segredos, entre eles, uma Atlântida que se foi sem se despedir. Melhor assim, pois meu coração mole não aguenta despedidas.

Contemplando a pequena casa com floreiras nas janelas, uma chuva inunda meus olhos. Ora, o bem mais precioso já não está lá.

Perdoe-me, meu amor! Imerso em tanta dor, tornei-me um desleixado. Oh! Como pude? Não percebi que suas lindas flores também murchavam.

Quando você partiu, partindo minh’alma sem o querer, eu sei, todas as demais belezas igualmente se foram.

Estrelas não mudam de lugar e em meu peito a saudade aperta, convertida em fustigante solidão.

O dia anoitece e eu daria tudo para que Deus me concedesse mais um amanhecer ao seu lado, outra vez e outra vez…

Não erguemos castelos de areia, nem semeamos em solo árido. Isto é o que me faz permanecer inconformado.

Eu fui o barco e você o leme. Eu sou o instrumento feito sob encomenda, que sem o virtuosismo da sua musicista está condenado a ser um objeto inerte.

As árvores do nosso quintal ainda vivem enlutadas. Suas folhas secam e caem em plena estação primaveril. Os passarinhos não cessam com as suas homenagens.

Tudo agora jaz mergulhado num terrível silêncio. Meus pulmões estão cheios d’água.

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ESPAÇO DAS INTERAÇÕES POÉTICAS

SAUDADE PERVERSA

Depois que você partiu,

Vejo o mundo culpado;

A roseira não floriu;

Galos acordam calados.

Como posso ver beleza,

Afogando-me em tristeza?

A saudade me feriu,

Deixando-me desolado.

Depois que você partiu,

Vejo o mundo culpado...

(Jacó Filho)