Descaso alheio
Praticamente dois anos –
Assombrados por um vírus mortal,
Dizimando vidas.
Não escolhendo a quem –
Acabando com sonhos.
Sujeitos a qualquer risco de intempéries,
Sem assistência – Negligenciados.
Proliferam os políticos desalmados,
Em causa própria.
A população vilipendiada –
Rasteja – Implora –
Por cuidados, saúde e comida.
A fome rasgando na alma,
A revolta cortando na carne.
Vítimas do descaso alheio.
Será que dormem tranquilos,
Com a consciência no travesseiro?
Enquanto, colhemos amargos frutos,
Pés descalços sobre as pedras –
Flagelo emocional.
Para quê tanta indignação?
Se no fim de tudo,
O que nos restam as migalhas.
Não mais sobre a mesa,
E sim, espalhadas,
No fétido chão da hipocrisia -
Que assola.
Ameaça invisível,
Pairando pelo ar.
Como sobreviveremos ao caos?
Uma sociedade sempre mais egoísta,
Um cabo de guerra,
Puxando a corda para si.
Vence quem for o mais forte,
Ou com a maior falha de caráter –
Para se obter um jogo sujo.
O quê mais esperar?
Senão sobreviver –
Um dia após o outro,
Até perecer.
***
Poesia translúcida