Quem vem lá
Quem vem lá
Que grita dos subterrâneos
E das noites insones
Que me desperta
Como se o trem chegasse
E eu, afoito e sem jeito
Com pressa de embarcar
Sem me dar conta
Com os cabelos desgrenhados
e a barba por fazer há dias
Me dirijo ao vagão que o fiscal de linha me indica
Entro.
Quem vem lá
Que grita dos subterrâneos
E pede ajuda
Quem sou eu
Nesse estranho mundo
Que me entorpece e sufoca
Como se o ar e a água estivessem contaminados
E eu
Estrangeiro
Ignorante da vida cotidiana dessas paradas
Como se eu fosse
A qualquer momento
Sufocar como meu próprio ar
Posto que a água
Desce cortante e obriga o estômago a esforçar-se para não explodir
Quem vem lá
Que grita dos subterrâneos
E aponta o caminho
Ouço tua voz
Mas donde estou
Não posso correr a seu encontro
Ouço o grito
Ouço o pedido de socorro
Porém, como tantos outros
Também estou atado à cela
À cela que o carcereiro
Diligente e severo
Como um general
Taciturno e louco
Não aceita amenidades (frescuras, na linguagem dele) para não desvirtuar o recinto
Quem vem lá
Eis nossa possibilidade de escuta
Nossa esperada possibilidade
Porque
Quem vem lá
Como a chuva que traz a lavoura
Quem vem lá
Como um amigo aguardado
Quem vem lá
Possa ser o portador
Das alvissareiras boas novas
Das boas novas tão esperadas
Das boas novas
Como o Arco-irís ao fim das chuvas