Pânico
A barriga dói e a cabeça não pensa. Eu acordo no meio da noite toda tensa. Em primeiro lugar quero me matar. Tenho que dar comida pra minha filha e achar um lugar pra ela ficar enquanto eu vou trabalhar. Em segundo lugar amo a vida e no mundo estar. As árvores, as flores, os pássaros e o mar. Rir e comer sobremesa depois do jantar. Me falta o ar, o coração acelera e sinto que vou partir. Sinto que meu momento chegou. A curiosidade em saber como é morrer finalmente vai acabar agora. Tinha um amor que quase me matou. Eu falo de morte demais, eu falo de amor demais. Não há equilíbrio, não há duas medidas e dois pesos. Sou tudo das duas coisas. Alternando a existência entre um dia e outro. Não sei porque existo. Ninguém sabe quem eu sou. Eu não sei quem sou. Zombam de mim, riem de mim, amam a mim, tem ódio de mim, sentem pena de mim, desprezam a mim, desejam a mim, se decepcionam, se magoam, sentem dor e se afastam de mim. Tudo isso existe ao mesmo tempo. E eu não sei lidar. Essa noite acordei gritando e sem ar, dor no peito e sem conseguir falar, só chorava e queria me matar. Ainda olho pra ela e magicamente ela consegue me salvar, mas dói ser salva quando não quer ficar. Esse é um peso que preciso carregar, de uma escolha que um dia tive que tomar, de uma consequência que sabia que iria chegar. Se um dia eu conseguir entender o que eu sou e o que me tornei, tenho certeza de que meu lar eu serei.