Estranha
Oi, estranha
Hoje abri os olhos e te vi passar de relance
Vi teu calcanhar dourado dobrando a esquina
Faz tempo que eu não te via por aqui
A ideia de você já não pesa tanto em mim
Eu já consigo respirar melhor, sem ti
Os nós na minha garanta desataram-se
Tua energia já não dança mais com a minha
Naquele quarto escuro, ao som de Harvey
O qual nunca mais visitei
Os fantasmas correm soltos por lá
A profusão de nós dois era um entorpecente que eu tomava diariamente
Era quente, como tudo era de ser nas paixões
O encanto aquece os corações sedentos
Por algum amor que não sentem nem por si
Mas quem um dia irá dizer que não existe razão
Nas coisas feitas pelo coração?
Renato, o amante, não foi capaz de responder
***
Estranhamente eu sinto frio ao lembrar-me
Da primeira e última vez que eu te vi
Era dezembro mas não havia chovido
Esse dia havia sido particularmente quente
Mas os meses seguintes o céu derramou suas lágrimas
E ironicamente o ar gelado que arrepiava minha pele se acentuava pelo frio que eu sentia por dentro
Esse tempo chuvoso que me fazia tão feliz
Hoje me traz pungente solidão