Atestado de Óbito

Jaz no meio da sala um tal defunto

E entre os presentes rola o mesmo assunto,

Sobre a existência humana, tão falaz:

Que pode ter matado o tal rapaz?

Bem vivo e forte, de ferro a saúde,

E agora calmo dorme no ataúde?

Acharam-no sem nada ter no peito,

O coração havia se desfeito,

Todo o cérebro estava em gosma e lama,

Olhos em cinza por ignota chama;

Suas tripas em água convertidas,

As mãos e os pés, todos em feridas;

As ouças – dois buracos de tatu;

A venta inchada como um cururu;

A língua seca como um pergaminho

E a sua face com um a r mesquinho.

Alguém aqui em um problema aposta,

Outro retruca e não se resposta,

Todos cometem mais e mais vexames.

Faz o médico os últimos exames;

Nos primeiros, se foram eficientes,

Não vieram resultados convincentes.

O médico vem, entra então na sala,

E com a voz alta ao povo todo fala

Do caso inédito da medicina,

As causas reais da carnificina:

–Mesmo este pobre estando quase exangue,

Conseguimos um pouco do seu sangue;

Nele nós encontramos com peleja

Doses letais de uma substância: INVEJA!

Rogério Freitas
Enviado por Rogério Freitas em 09/01/2022
Código do texto: T7425414
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