INÍCIO DE ANO

Lílian Maial

 

 

Não quero fazer planos e estabelecer metas para 2022. É complicado.

Tenho essa pletora de pensamentos, uma infinidade de ideias e desejos a mancheias.

Não cabem num "planner".

 

Embaralho o dia. Demoro a me levantar, catalisando as horas.

Olho a janela e vejo as alamandas risonhas e aveludadas, amarelando a manhã (ou seria tarde?).

 

Respiro.

As notícias se repetem ano após ano. Tudo volta: a moda, as epidemias, as catástrofes, as palavras.

 

Olho para o espelho e sorrio. O tempo pode ser amigo ou inimigo, dependendo da base e do filtro solar corretos.

 

A casa traduz o meu momento. Tudo arrumadinho por fora, mas não abra um armário!

 

Volto à varanda e lá estão as alamandas a jactarem-se de sua perfeição sem filtros. Sinto um despeito incipiente, que logo dá lugar ao sentimento de pena. Sim! Elas são perfeitas, mas só duram alguns dias. E eu perduro com todas as minhas imperfeições.

A vida tecida de fios de dor e de felicidade. Fiandeira escolada, guardo sempre velhos novelos.

 

Todo início de ano traz essa sensação de renovação, como se a cura de tudo estivesse por chegar.

Gosto da ideia de luz, de sol, de vento e de cheiros. Janeiro tem fragrância de verão, de praia, de suor.

No encadeamento de ideias, corpos, contornos, texturas, tato, carícias, amor.

Época de amor, de admirar o que se plantou, o que foi concebido, o que se criou.

Tempo de contemplação, de sonhos e divagações.

 

Gosto de janeiro, gosto de anos pares, gosto de água do mar e água de coco.

 

Ah! Gosto da vida!