Diáfana

Num jardim de acácias ela caminha livre e despreocupada, como um passarinho que não sabe o que é viver engaiolado. Alma diáfana, não traz no coração nem a malícia, nem o despeito do homem vulgo. Mas quem sabe carregue um pouco da ingenuidade e da curiosidade das crianças em tenra idade?

Tem os cabelos da cor do ébano a se espraiarem pelas suas costas desnudas e brancas. Braços, peitos, coxas, pernas e nádegas esculpidos com primor pelo Criador, num verdadeiro monumento à beleza.

Seus lábios são róseos e puros, e nenhum só homem jamais se atreveu a tocá-los.

Que visão maravilhosa, meu Deus! Meus olhos não são dignos de contemplarem tamanha beleza.

Não sou Perseu, filho de Zeus: não mereço o amor de uma Andrômeda. Todavia, me sacrificaria por ela de bom grado.

Quando o Sol atinge a sua pele, todo o seu corpo então se resplandece.

Nas belas noites de luar, seu corpo exala uma fragrância doce e sedutora.

Seu semblante é sempre sereno, porém, guarda uma certa melancolia.

Quiçá haja nela desejos contidos de uma mulher mortal? Talvez sonhe com braços viris a lhe envolverem e com uma boca carnuda ávida por lhe roubar um beijo?

Em uma memorável ocasião para o meu coração cativo deste sentimento, misto de amor e adoração, juro que pude observar um tímido sorriso se desenhar no semblante plácido daquele ser angelical: será que após tanto tempo ela finalmente notou minha presença e na sua bondade sorriu para mim? Será lícito carregar no peito esta centelha de esperança?

Eu permaneço em meio aos meus devaneios enquanto minha Andrômeda, minha apenas em pensamento, passeia despreocupada pelo seu jardim.