Boêmio
Névoas se estendem sobre a cidade, saltando das fendas da madrugada. Rendas em brancura adornando um berçário que o sol nascente, depois rasga lentamente. A manhã reabre as janelas para o horizonte de cada ser.
As pessoas são palcos com grandes espetáculos de si mesmo. As atitudes ou inércias geram emoções que ovacionam ou apupam cada apresentação. A consciência é que oferta os prêmios com sorrisos ou lamentos.
As abstrações são de toques verdadeiros, enquanto que as concretudes são de decadências conforme o tempo placidamente as espia, porque sentimentos são eternizados em seus momentos, ainda que pequenos; e coisas são apenas coisas.
Dessas noites amarrotadas no vago das boemias, se faz bonito ver as manhãs rolando o dia pelas avenidas e as ruas pouco a pouco se enchendo de movimentos.
Nas inquietações dos silêncios é que os gritos se fazem e propagam ecos pelas alamedas da alma. A vida segue pelos caminhos das incertezas, com uma mão acenando saudades e com a outra cumprimentando esperanças.