NÓS, SÓ NÓS
Eu sinto assim, como num súbito, o voejar de beija-flores quando você roça suave e meigamente seus doces e encantadores lábios no lóbulo de minha orelha, quase a mordisca-la lânguida. E estremeço. Mas é um delicioso estremecer, um auge gozoso, duma cândida e regozijante atmosfera, momento de avidez, um frenesi além-imaginado, algo que apenas é possível sentir, nunca definir, jamais expressar com palavras.
Então, carinhoso e quase em transe, revolvo seus lindos cabelos perfumados, passeio meus lábios em leve suavidade por sobre sua nuca cuja fragrância lembra jardins floridos e, a pouco e pouco, nossas bocas se encontram, se descobrem, se entrelaçam, se amoldam e se unem num beijo que tem somente começo, sem tempo para o passar do tempo.
A noite, e ela tão-somente, é testemunha muda, cega e surda dos instantes, dos seguimentos, da vida e do amor em sua plenitude.