CRÔNICAS DE UM ADOLESCENTE VAIDOSO E CHEIO DE MÁ-FÉ NO CORAÇÃO

Ele foi tão engolido pela própria ironia total irrestrita que não pôde deixar de entender-se a si mesmo como o cúmulo da vaidade. Achava-se um Deus, vivendo como homem em solo europeu. E o que Deus mesmo faria em tal caso, para fugir desse double-bind calamitoso?

Procuraria um centro! Impelido pela verdade, o autoproclamado solitário e ensimesmado morrerá asfixiado pelas paredes de seu próprio gênio inimitável e sem-precedentes... Ele se torna um artista nostálgico, um fichteano, em suma. Misto de asceta descontente e lasso vadio urbanoide, pálido e doentio, este deus acamado, tirano de seu quarto, prefere não sair para respirar ao ar livre, apenas para agravar seu quadro. Sim, ele se tornará um desses poetas apaixonados por musas de mentira que morrem aos 23 anos! Um Dom Quixote tão menos nobre... Sua donzela mal vale um meio moinho enguiçado...

Chega ao limite de afirmar em sua insânia: posto que não era tão elevado quanto pensava, não há elevação! Se não posso ser Deus, ninguém será! Será este rapaz engraçado (ridículo) ou digno de pena e comiseração? Herói de araque demais para pertencer ao ramo do trágico, ele não morre no final (quando se disse acima que ele morrerá, ele morrerá, sim, porque apesar de tudo ainda é um homem, mas isso não interessa para nós), mas pega um cruzeiro para fora da Europa!... Sim, porque tudo que é sórdido desmancha no ar fuliginoso! E assim termina a carreira do promissor poeta, antes sequer de começar...