... se todos os poetas, todos os jograis, são meus irmãos
Igual à erva
à flor emurchecida
ao vento que arredonda paciente, paulatinamente, a dura fraga,
o tempo intimista perpassa a carne dos anjos
submisso ao gume metaliforme da tua espada.
Digo-te silêncio!
Digo-te olímpico canto
música anelar soprada nos alcatruzes p’los ventos.
Digo-te perfeição, plenitude imaculada.
Digo-te caminho, vereda, calçada, avenida reflorescida de lilases…
[digo-me nua, digo-me tua …]
Digo-te de novo e uma vez mais,
silêncio esculpido das águas, das águas esvaecidas p’las noras em lúpulos trevos, pés-de-galos e logo escorrido ao mar por todos os ralos.
Digo-te calma
[digo-me alma, digo-me alma desnudada, desventrada …]
Quedo-me em silêncio,
silenciada, serena, quase muda.
Igual à erva,
igual ao verde do musgo, ao verde do prato,
ao caule da flor entristecida,
à flor ogivada, síndrome de vida.
O dia nasce. É presença num tempo crescente de inocência inviolada.
Atravesso a inquietude da manhã, viajo sempre descalça, sem medo. Lateral, a fila interminável dos choupos e dos álamos de folhas em queda no alcatrão húmido da estrada.
As casas, brancas, simples, modestas, na Vala aberta. Das chaminés já acordadas, das fugas renascidas, erguem-se os fumos e as micas. Micas fragmentadas…
As que carregas no teu olhar, as que usas umbilical, ermitã ou jogral. As que soltas em fúrias d’arrebatado animal…
E contudo, sim!
São tuas todas as orquídeas despertas p’la madrugada, as buganvílias floridas e todas as demais flores que cuido com fervor no meu jardim.
Não, não me rasgues qual folha do tempo de esquadrias desalinhadas, não me retenhas, se me rejeitas, asfixiada no sangue que se escorre mesmo antes do cravar do bisturi. No rio de tinta, nas palavras encrespadas, desocupadas, ou quando, eriçado nas penas de ti, as usas codificadas em anagramas, em profusão penitenciada.
Inclusiva, prossigo a veia cava da saliva e redescubro alimento em frutos robustos de sãos se todos os poetas, todos os jograis, são meus irmãos.