Poética - A dialética das tempestades: Iansã
"No furor noturno, os raios descarregavam o céu com a catarse de todas as paixões
A chuva cedia as mais profundas lágrimas da liberdade.
E o horizonte longínquo da vida
rangia sob o peso nervoso da natureza que em mim se esparzia."
Ó vento, substância expansiva que espalha-me para fora de mim até que no mundo eu já não caiba.
Teu sopro vaza-me dos contornos da existência e cinge-me na inquietude celeste do inconformismo.
A velocidade que quebranta-me a alma, eleva-me com todas as forças para a zona incerta do futuro.
No meu peito indômito arquejam os leões da consciência em um coro que penetra o âmago da realidade.
A solidão embala-me em meu próprio peito e faz-me de casulo para que o rugir da vida rasgue as débeis artérias do medo (...)
Ah, por entre a névoa de todas as almas que desencarnam dos meus pensamentos, e por entre o sopro sôfrego das vagas convicções que me abandonam.
Nada me apossa e tudo punge-me de fora para dentro em um estrondo
que bombardeia os canteiros da minha mente.
Por vezes almejo o contraste com aqueles de inteligência fácil e sobriedade cômoda - A força da oposição -
Almejo o destruir do inquietante penetrar da vida pela síntese da breve calmaria.
Mas na lânguida sede que desperta-me por dentro, retenho vendavais em meus olhos e os libero conforme as pupilas do destino se abrem em minhas mãos.
Eu poderia refugiar-me em uma redoma e concentrar toda a minha sensibilidade no que é rotineiro e seguro.
Mas as nuvens do céu moldam o formato da minha alma e introjetariam todo o vidro sobre a minha carne.
"Que o palpitar sublime da liberdade
seja uma oferenda às formas que latejam em minha alma. E que a dicotomia das tempestades sejam poesias extraídas do âmago dos injustiçados."
- Leticia Sales
Instagram literário: @hecate533