Nesse momento tudo é absolutamente nada...sons, suor e silêncio
Tudo se confunde com o vazio, se misturam ao hiato do tempo...tudo é solidão.
Até o medo que na pura bazófia de ser tirano e ditador, dá mostras de estar também arredado.
A cidade se fecha por completo e não fala...paredes grossas se calam.
Pingos querem e forçam entrar, batem forte e fazem respingos em minha janela.
Eu por castigo, a controlar sinais e contar sucessivos, 'abrires e fechares'
De luzes, vermelhas, verdes, amarelas, piscando...piscando..., piscando, sem parar.
Só eu aqui do alto, nessas alturas cuidando deste completo nada...parecendo somente eu, estar acordado.
Apenas gritos ouço, sonoridade que mais parecem grilos saindo das teclas de meu "PC"
Por dedilhadas que faço sem parar...repetidas batidas deste meu calado e inquieto, coração!
Eu, que para o mundo é sabido que pouco tenho a faculdade de escutar bem
Nitidamente e em bom som, mais de cinquenta tons contabilizados...a ouvir alheios, em seus soluços e gemidos.
Lascivas bocas sussurrantes, possíveis corpos estirados em cama, entrelaçados e dados ao amor e a paixão.
Ateando, estremecidas chamas em paredes de pedras ferventes por dentro...frias por fora.
Revelando em flashes, seguidos e intermináveis “ais’
Tudo munido de uma sonoridade que em momentos, quase que finais
Ditam esses, compasso cruel de se ouvir, invejados, ensurdecedor e ritmado ritual de acasalamento.
Neste avançado da noite, isso tudo me vêm como pena imposta...desgraçado castigo!
Rodas cantando no asfalto umedecido pelo orvalho, buzinas perdidas na alta madrugada,
luzes difusas, ofuscas...que não param de piscar.
Surge do nada e cambaleante, outro desavisado e desgraçado, sem sorte
Em passos viciados, marcados e desatinados, sem rumo...
Tentando sem norte, encontrar pela frente, nem que seja "um pedaço de mau caminho".
Agora surge de outro lado da rua um assíduo, simples e nobre operário que destina-se ao labor.
Por certo só depois e antes de sair de sua casa, passando pelo quarto dos seus,
Acobertando sua plole da aragem, facilitada pelos gretas de seu barraco, caindo, mas edificado de seu suor....pai devotado.
Se lança na lida de uma longa e pesada jornada, ainda bocejando, ainda esboçando ter sono.
Mas vai reto, atento aos sinais do improvável e do infortúneo, até o ponto...sentado, a aguardar na parada.
Permanece assentado, enfileirando preces e orações, em alusão aos desmandos insanos deste mundo cão,
Enquanto vai roçando as 'bagas', empunhando velho terço de desgastadas contas
De um velho e antigo Rosário na sua rotina da fé....presente dado em leito, por sua finada mãezinha.
De súbito vontade (pois ainda resta-lhe um tempinho...) e então arranca de sua bolsa, garrafa térmica "aladim',
Pondo, numa lascada caneca de esmalte, um dedo e meio de seu café que rapidamente vai se amornando.
De repente, de um lado e de outro se achegam pares, enfileiram-se e se esgueiram para adentrar “o buzão”,
Eis que este já vem com atraso, super lotado por vários outros nobres personagens dessa novela real...
Entitulada, VIDA!
De pé vários..., achegados sem nome, vindos de longe e iguais da santa e inadiável rotina...todos em silêncio pelo sono cruel.
São os seus, desconhecidos colegas, conhecidos e vizinhos de uma eterna e tão procurada, esperança comum!
Arregalado ainda, quase desesperado, nada de sono vir...xícara, esvaziando-se pela quarta vez.
Sem perceber e sem acreditar, um feixe de sol incontido, adentra quarto, todinho revirado.
Me desespero de tal maneira e numa tentativa inútil de quedar meus olhos,
Luto contra minha terrível insônia, pois me falta ainda, último verso...
Mas ele não veio...creio que nem virá... e isso vai mesmo ficar para amanhã, quem sabe...
BOA NOITE...