A Casa e a Anfitriã Não São Mais

Não tenho espaços disponíveis como antes. Minha casa se amofinou de tanto pertencimento, não suporta mais a estar para angariar coisas, saberes, dizeres, perdeu a hospitalidade antiga para estabelecer-se em novas estruturas e paradigmas. A anfitriã declinou da função.

Hoje, Ela e a casa se confundem, perdeu o traquejo para tantas etiquetas e pormenores para o saber. A leitura das cartilhas, dos recitais, e das preces, sejam elas na forma de mantra, reza ou orações, passou perder sentido para ser na condição essencial.

No interior da casa permeia a onipenetrante e pacífica aceitação de um pertencimento a um tudo que pode ser dito somente de um modo: Fazedura Suprema Indiferenciada.

De tanto, passei prosear ao falar com Deus.

Sentar na cadeira de discípula, somente para ocupar lugar em novas aventuras de aprendizagem, desde que atenda ao que vibra no interior de casa.

Pedras e cristais, aromas e incensos, flores e florais, serviria nesta existência, não como instrumento-meio para abrir caminho para os mistérios, mas para agregar estética à magia interna que besunta o Templo e a morada do Espírito que porto.

A dor e a penitência de ser gente neste tempo reformatado de novo, traz a nitidez subjacente da mantença do velho em funcionamento, que de tanto ser vivido pela Casa, e pela anfitriã, nos séculos e na viagem cíclica da história,a leva colocar a mordaça da sabedoria, posicionando-se na reserva e subserviência aos acontecimentos.

A casa e aquela que apresentava-se como a moradora, fundiram-se.

No agora, vivo num templo com o proprietário não- identificável, Todo presente.

Como há a fase do exaurimento da cena final de uma peça teatral, sinto que vivo nele, parte derradeira do Drama que desencadeou o novo.

O novo que prenunciava, experimentei antecipadamente em cada poro de m`alma, saía tranquilamente pelo canal da intuição as sensações da avalanche.

Depois que o que tinha que vir se instaurou, e agora é trabalhado na sua fundação, o que de mim emana, e o som que vem da escuridão dos acontecimentos, do movimento das estruturas e das suas primeiras acomodações no solo, tecido mais profundo desta sociedade que se reformata, somente a mim cabe o resumo à insignificância diante de tanto a realizar.

Não participarei da finalização de todo trabalho reformador, mas não esquecerei do momento privilegiado, meu e de todo povo da Terra, de estar neste instante do alvorecer do novo mundo.

Incerto, que veio para ficar.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 15/12/2021
Código do texto: T7408260
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