DE VOLTA A VIDA
A noite está serena, a lua cheia de luz se exibe no céu bailando sobre as águas, mas eu estou absorta demais em meus pensamentos para prestar atenção em toda essa encenação.
Meus olhos pairam sobre outro quadro, eles fintam meu minúsculo barco sendo tragado pelo enorme mar da vida - sem chance para mim.
Embora eu procure um colete salva-vidas sempre acabo por encontrar a mesma coisa, um enorme e palpável vazio.
Meu coração cansado me torna incapaz de ver o reflexo do luar, que delicadamente acaricia o oceano, abrindo caminho em meio a escuridão que se estende sobre o meu peito.
Estou vivendo ou apenas existindo?
Li em algum lugar que: "existir é correr do nascimento até a morte enquanto viver é se aventurar nesse intervalo."
Por mais que viver e existir sejam sinônimos, na prática há uma sutil diferença; entre elas permeia uma grande distância.
Para se viver é necessário existir, mas existir não significa necessariamente viver.
Viver e existir são definitivamente fatores opostos!
Existir é deixar a vida seguir sem quaisquer expectativas de que algo novo possa surgir, é um gotejar do passado, um rastro de algo que já foi.
Mas viver, ah! Viver é ter a coragem de se arriscar, é ousar dar o primeiro passo, é não esperar a vida surpreender e sim - fazer dela um lugar surpreendente.
Sinto que em algum momento da vida eu me perdi, deixei de viver e comecei a simplimente existir.
Eu adorava sorrir sem medo, amar sem reservas, me doar com profundidade, caminhar cada passo sentindo a vida nos mínimos detalhe; até as dores e perdas eu sentia com intensidade, com uma ligeira ilusão de que nada mais voltaria a ter sentido.
Olhando para esse enorme mar vazio cheio de sentimentos emaranhados, percebi o quanto eu perdi ao deixar a maré me levar ancorada numa rotina diária de atividades banais, me senti péssima nesse momento, como se a vida tivesse me engolido e jogado sobre mim o terrível peso de um viver sem sentido.
Olhei para o céu e lamentei por ter deixado de viver com maestria cada dentalhe da minha vida.
Foi aí que toda aquela encenação da noite atraiu o meu olhar - a luz da lua adentrando a escuridão do mar, destemida, viva, se arriscando mar a fora para fazer daquela noite a mais bela noite de luar, me fez entender que viver requer muito mais atenção do que apenas existir.
Viver é ouvir o inaudível...
É ver o que está oculto...
É sentir o intocável...
É ler o invisível...
É ser infinito mesmo sendo finito em si...
Olhei para o relógio, era tarde.
Contemplei mais uma vez a imensidão do mar e com um olhar grato, sorri e me despedi.
– Agora é um bom momento para voltar a viver! Sussurrei.
Como certa vez disse Disraeli:
“A vida é muito curta para ser pequena.”
Cabe a cada um desfrutar as pequenices que o universo nos apresenta, pois são elas que tornam a vida vívida e colorida.
Foi nessa noite que eu voltei da existência para a vida.