Menoscabo
Fecho os olhos penso no que vou a pensar, venho a pensar, irei, não mais, já estou; olhos fechados, fechados olhos, quais olhos, qual olho? O teclado já não me parece o mesmo, nem o mesmo de antes, nem o mesmo mesmo; sempre contíguo, nunca sendo; sempre a ouvir a voz, nunca ouvida; sempre tendo como algo, tendo-se; nunca nada, sempre tudo. Ouvido, não, não ouço; porta, não, não enxergo, lágrimas, sim, todas, lágrimas... Singelas letras em versos, versos em versos de letras, letras em letras de letras em mim e por o ser, de letras, nada; sempre o mesmo, nunca o mesmo estático, mas sempre o mesmo, mutável, instável, o mesmo, aquele mesmo, consagrado recanto, requintado? Não, nada, aquele mesmo nada que por o ser, nada; ambíguo, percalço e desfaço, as vestes que estava vestido; não, não me conformo, disformo a mim em infinitas vestes, visto-me e continuo nu; não, nada há além do óbvio, nada além para fazer, nada além do nada, não; não me tirem de mim, não me joguem em não mim, ser-me a mim mesmo o que são em tudo, nada. Retiro-me do aposento, semiergo-me enérgico, vibrante, esplendorosamente vibrante e começo a agir; quando faço visto-me e vejo, quando vejo sorrio e faço, mas quanto mais faço desfaço o que outrora fiz, visto-me novamente e sorrio, mas não, eu, EU faço e faço, desfaço o que outrora fiz; Não! Não me encham de impaciência, a portaria não é de aço, sucumbe a todo vento, a toda palavra; não me prometam castelos ao vento, a partir do vento, ou da palha, não me construam palavras, desfaçam-me os sistemas e me prometa o puro e singelo nada.