Testemunho ou testamento?
Quanto de mim ficará como meu testemunho e testamento?
Com testemunho, quero dizer, o quê eu terei deixado a partir do que vivi.
Terei testemunhado,
para meu espanto, que
os eventos que presenciei
Sem que eu pudesse prever
Teriam sobre mim
Eu que julgava impenetrável às coisas externas
Que de cada evento que tive contato
Fossem eles
Em certa medida, constituintes do que me tornei
Se, como meu testemunho, deixo sentimentos que despertam nos outros algo como um exagerado apego a Ética, talvez terá sido porque, quem comigo conviveu, tenha percebido ser minha constante busca pelo que entendia ser o justo
Ou,
Um profundo respeito por posições que se confrontam com as minhas
Mas que, não nas impedem de eu estabelecer respeitosa relação com meu interlocutor
E mais,
Se meu amor às artes, e um gosto especial pela poesia,
Posto que, sempre acreditei ser a poesia o meio de expressão que, em palavras, ligam o físico como o sentimento, daí ser a poesia a ponte do concreto com o abstrato
Não posso negar
Sem que eu imaginasse
Devo dizer que sim
Cada evento com que estabeleci contato
Contribuiu para no que me tornei
Com testamento, quero dizer, sem outras definições
Que deixo aos que ficam
Como um presente, uma oferta,
Que de mim, deixo o que a vida me ofereceu
Assim,
Nesse testamento,
Sem qualquer busca de reconhecimento póstumo,
Deixo o que de mim, e para mim, foram os mais significativos momentos
Meus amigos