A chuva
A chuva lava a cidade com uma ira bíblica.
Escorrendo pelos paralelepípedos, pelas pessoas que saem da barca.
E também em mim.
Minha chuva escorre por dentro, longe de olhares alheios. Me molha por inteiro, dos pés a cabeça.
São aquelas coisas que a gente não conta pra ninguém, e entra em parafuso. Daí, essas coisas te pegam às quatro da tarde de um dia de chuva.
Descobri nos últimos tempos que aprendi a me auto sabotar.
Antes de algo dar merda - e sempre dá - eu mesmo faço. Ou simplesmente não faço nada e só aguardo.
E como sempre, quem fica sou eu.
Afinal, o bom comandante afunda com o seu navio. São coisas da caserna.
Naufraguei.
Afundei junto com as esperanças de encontrar terra firme. Enquanto meus pulmões faziam água juntamente com o restante da minha embarcação, eu te vi.
Sempre com pressa, você se despedia no cais; enquanto com o último sopro de ar nos pulmões eu te dava adeus.
Meus olhos comidos pela água salgada, viram as últimas bolhas de ar saindo pela minha boca.
Não houveram lágrimas.
As mesmas águas salgadas que me matavam, as lavaram.
Morri.
Morri a seis horas do porto.
Causa mortis: embriaguez e afogamento.
Mas, aprendi
Que o mar não tem cabelos, onde se segurar.
E que o certo e errado, é apenas questão de ponto de vista.
Agora,
onde estou
Permaneço inerte.
Como alguém que dorme, aguardando quem o chame para pegar o timão.
Sigo como antes, porém mais morto.
Mas não precisa se importar.
E nem papel de pão.
- melhor eu ir.