MISANTROPIA
No escuro, as sombras, o cheiro da noite alagando os sentidos Apalpo o lençol macio e rolo – alcançando o criado-mudoali estão meus amigos de todas as noiteso cigarro e o isqueiro coloco-o na boca e acendo-o numa afeição grudenta e a fumaça desenha-se no ar.
Diante de meus olhos, respondem algumas perguntas como uma silenciosa psicóloga entrando no meu intimo (ou seria eu dirigindo as respostas?).
Da janela vejo as luzes distantes, dos milhares de prédios que enfileiram-se como as fotografias de revistas de bancas de jornal.
Por um momento imagino quantas vidas há por trás daquelas pequenas luzinhas que como eu, vivem essa insônia e pensam na vida.
Dou mais uma tragada – profunda e solto a fumaça pedindo respostas as sombras do teto brincam com meus olhos e por um momento distraio-me e esqueço-me os questionamentos.
Esse amargo sentimento de derrota que engole-me nas madrugadas frias e em posição fetal, enrolo-me nos lençóis.
Ah! amarga solidão doentia...