Aprender com a criança
A vida
A seu modo
Duro
E sem meias palavras
Me ensinou
Que para subir a montanha
Mais que disposição
E pernas fortes
Precisa - se saber para quê subir a montanha
O que fazer quando lá ter chegado
Se contemplará a planície
Como um desbravador
Que contempla as terras conquistadas
Ou
Igual a criança que olha
E sem saber a extensão do que vê
Só pensa
Para desconforto
Dos pais que lhe ensinaram
Como se ensina a um déspota
Que o mundo se curva com sua presença
Então, para desconforto dos pais
A criança
Contempla a extensão
Do território
Não como um conquistador implacável
Mas como quem sabe
Que naquela área se pode brincar
E como quem ignora
Porque não pensa
Como um déspota
Assim
Mais importante do que subir a montanha
A criança
Em oposição ao conquistador
A criança subiu a montanha
E olhou
O conquistador
Olhou e calculou
Ao conquistador
Que vê as coisas como extensão do próprio braço
E por conseguinte
Um braço que não abraça
Mas um braço que aperta e machuca
Um braço que despreza a flor
E se regozija com o punhal
A criança
Por sua natural ingenuidade
Não quantifica os encontros, não faz cálculos
Porque não olha as possibilidades das coisas na medida do que ou o quanto pode ganhar
Não está na perspectiva da criança a mesma certeza de que a vida se mede pela posse de domínios ou pessoas, tão fortes no conquistador
A criança
Como um jardim pronto a receber a flor que atrairá a abelha
A criança abraça com a pureza de quem vive sem pressa
O conquistador tem pressa porque não vive